Suely Franco emociona como Rosa em Dona de Mim e entrega uma das atuações mais verdadeiras da TV brasileira recente.
RESUMO: Suely Franco entrega em Dona de Mim uma atuação poderosa, sensível e profundamente humana. Aos 85 anos, a atriz mostra que o talento amadurece com o tempo e transforma o drama de Rosa em um dos arcos mais marcantes da teledramaturgia recente.
Um dos maiores acertos de Dona de Mim é a construção do drama familiar de Rosa, interpretada com rara sensibilidade por Suely Franco. A atriz emociona o público ao dar vida a uma mulher que enfrenta o Alzheimer com lucidez, dignidade e dor contida, sem jamais recorrer ao exagero.
Desde sua chegada como a matriarca da família Boaz, Rosa foi ganhando densidade dramática. Os primeiros sinais da doença surgiram de forma gradual: esquecimentos, lapsos de identidade, confusão mental. Tudo conduzido com respeito e precisão, até a cena marcante em que a personagem reconhece o próprio diagnóstico.
Uma protagonista da própria dor
“Eu sei o que virá, infelizmente”, diz Rosa ao confirmar que está doente. A cena, exibida recentemente, é um exemplo da grandeza de Suely Franco. Sem melodrama, ela atua no silêncio, no olhar perdido, na pausa que diz mais do que qualquer grito. Rosa não nega a doença. Ela pensa no futuro.
Essa consciência transforma a personagem em protagonista de sua própria luta. A decisão de deixar suas ações da Boaz para Sofia (Elis Cabral), única neta excluída da herança de Abel (Tony Ramos), revela não apenas lucidez, mas senso profundo de justiça. Rosa é a única a enxergar a ferida aberta naquela família.
Relações que ampliam o impacto emocional
A relação de Rosa com o neto Samuel (Juan Paiva) e a nora Filipa (Cláudia Abreu) ganhou contornos ainda mais tocantes após a morte de Abel. Em Samuel, ela encontra abrigo emocional. Com Filipa, constrói uma parceria afetuosa, marcada por respeito e apoio mútuo diante da nova realidade.
Mesmo a decisão polêmica envolvendo a guarda de Sofia, concedida à ex-babá Leo (Clara Moneke), ganha outra dimensão quando vista pelo olhar de Rosa. Ainda que frustrante para parte do público, a trama reforça o quanto a personagem é movida por empatia e não por convenções.
Um acerto da autora e um espetáculo da atriz
A autora Rosane Svartman acerta em cheio ao conduzir esse drama com equilíbrio, evitando manipulação emocional e retratando com empatia os desafios de quem convive com o Alzheimer — tanto quem enfrenta a doença quanto quem cuida. A velhice aqui não é caricatura, é humanidade.
E é Suely Franco quem transforma esse texto em arte. Em meio a romances conturbados, tramas policiais e reviravoltas, é Rosa quem faz o público parar e sentir. A atriz transforma dor em espelho, silêncio em discurso e fragilidade em força.
Dona de Mim acerta ao dar espaço para uma história que humaniza a velhice. Mas vai além: entrega ao público uma personagem inesquecível. Se há uma razão incontestável para acompanhar a novela, ela atende por um nome: Rosa, vivida com grandeza por Suely Franco.
