O Menino da Porteira (2009) com Daniel é um clássico sertanejo de amizade, injustiça e tragédia. Disponível no Amazon Prime Video.
O Menino da Porteira é uma das histórias mais simbólicas da cultura sertaneja brasileira. A obra nasceu primeiro como canção, eternizada por Sérgio Reis, e se transformou em filme em 1976. Mas foi em 2009 que o público redescobriu essa emoção com o remake estrelado pelo cantor e ator Daniel. Dirigido por Jeremias Moreira Filho, o longa buscou modernizar a narrativa sem abandonar o espírito original da música que atravessou décadas.
A trama se passa em Ouro Fino, no interior de Minas Gerais, onde o boiadeiro Diogo, interpretado por Daniel, conduz boiadas entre fazendas e pequenas cidades. Durante uma dessas viagens, ele cria um vínculo especial com Rodriguinho, um garoto de coração puro que sonha em se tornar peão de boiadeiro. A relação entre eles nasce de gestos simples: toda vez que Diogo precisa passar com sua comitiva, o menino vai abrir a porteira. Dessa amizade surge o apelido carinhoso que dá nome ao filme.
O sonho é combustível para Rodrigueinho. Ele se encanta com a vida da estrada, com o som do berrante, com a coragem dos boiadeiros. Para ele, Diogo representa tudo que existe de mais honrado no sertão: lealdade, bravura e respeito. Ao mesmo tempo, o boiadeiro vê no garoto a própria lembrança de quando acreditava que o mundo podia ser mais justo.
Amizade, luta por justiça e o desfecho mais doloroso do sertanejo

Mas o sertão retratado em O Menino da Porteira também é território de conflitos. A vida dos moradores de Ouro Fino é marcada pela exploração e pela opressão de um fazendeiro ambicioso, que usa sua influência para controlar a região. Quem se opõe a ele se torna alvo de violência e ameaças. Diogo, que possui um forte senso de justiça, não aceita calado os abusos cometidos contra o povo humilde que sempre ajudou os boiadeiros nas estradas.
Enquanto a tensão aumenta na cidade, a amizade entre Diogo e Rodrigueinho se fortalece. O menino passa a acompanhar o boiadeiro sempre que pode, imaginando o dia em que se tornará parte daquele mundo livre das águas, da poeira e das porteiras que se abrem diante da coragem. Porém, o destino segue os versos da famosa canção: o sonho do garoto encontra a dura realidade do sertanejo.
No momento mais marcante do filme, durante uma condução de boiada, Rodrigueinho corre para ajudar o amigo e acaba sofrendo a tragédia que todos temem: é pisoteado pelos bois. A cena é construída de maneira emocionante e dolorosa, arrancando lágrimas mesmo de quem já conhece a história. O luto de Diogo e da comunidade revela o quanto o menino tocou aqueles que cruzaram seu caminho.
O desfecho mantém fielmente a essência do clássico original: a vida no sertão é linda, mas também marcada por perdas profundas. A morte de Rodrigueinho expõe o preço de lutar por sonhos em um ambiente onde a inocência raramente sai ilesa. A partir de sua ausência, nasce um símbolo de resistência e amor ao campo, eternizado na garganta dos cantores e no coração do público.
Além da forte carga emocional, o filme entrega ao espectador cenas grandiosas de boiada, equipamentos de época, figurino autêntico e uma fotografia que valoriza as paisagens brasileiras. O elenco coadjuvante ajuda a dar credibilidade ao universo retratado, reforçando a presença do sertanejo como parte essencial da memória do Brasil.
Daniel entrega uma atuação que combina sensibilidade e força, equilibrando sua trajetória na música com o desafio do cinema. Sua presença no papel principal foi certeira para aproximar o filme do público sertanejo contemporâneo, já acostumado a vê-lo como uma das grandes vozes do interior.
Hoje, o longa está disponível no Amazon Prime Video, permitindo que novas gerações conheçam essa história que atravessa décadas. Mais que um filme, O Menino da Porteira é um retrato cultural do Brasil profundo. Ele honra a música original e reconta uma narrativa que emociona porque fala de sonhos, coragem e da dor que transforma o sertanejo em lenda.
