Há quatro anos o Brasil perdia Marília Mendonça, vítima de um acidente aéreo em Minas Gerais. A cantora deixou um legado que mudou para sempre a música sertaneja e o papel das mulheres no gênero.
Há exatamente quatro anos, o Brasil parava para chorar a partida de Marília Mendonça. No dia 5 de novembro de 2021, um acidente aéreo em Minas Gerais tirava a vida da cantora de apenas 26 anos, no auge da carreira, deixando um vazio que até hoje não foi preenchido. A tragédia marcou uma geração e transformou a artista em símbolo de autenticidade, coragem e representatividade feminina dentro do sertanejo.
Nascida em Cristianópolis (GO) e criada em Goiânia, Marília foi uma daquelas raras artistas que pareciam cantar a alma do povo. Com letras honestas e sem rodeios, ela deu voz às dores e às delícias do amor, transformando a sofrência em identidade nacional. Foi ela quem abriu as portas para o chamado feminejo — movimento que colocou as mulheres no centro da música sertaneja, com protagonismo, vulnerabilidade e força.
De “Infiel” a “De Quem É a Culpa”, passando por “Ciumeira” e “Bebi Liguei”, Marília não apenas cantava — ela contava histórias que todo mundo já viveu. Com sua voz rasgada e presença genuína, transformou o palco em confessionário e a multidão em cúmplice.
Da menina de Goiânia à Rainha da Sofrência
Marília Dias Mendonça nasceu em 22 de julho de 1995 e começou a cantar cedo, em pequenos eventos e igrejas. Seu talento logo chamou atenção de produtores locais, e, em 2015, ela lançou o álbum Marília Mendonça – Ao Vivo, que a catapultou ao estrelato. A música “Infiel” virou um fenômeno nacional e colocou o nome da goiana entre os grandes da música brasileira.
Dois anos depois, veio Realidade – Ao Vivo em Manaus, que consolidou seu reinado com faixas como “Amante Não Tem Lar” e “Eu Sei de Cor”. Em pouco tempo, Marília se tornava a artista mais ouvida do país, quebrando recordes e conquistando prêmios — entre eles, um Grammy Latino — sem nunca perder a simplicidade. No palco, de moletom ou vestido, ela sempre era a mesma: intensa, verdadeira e próxima do público.
A voz de uma geração

Antes de Marília, a mulher no sertanejo era coadjuvante. Depois dela, virou protagonista. Ela não apenas abriu espaço para artistas como Maiara & Maraisa e Simone & Simaria, mas também redefiniu o discurso do gênero. Suas letras falavam de amor, traição, autoestima e superação com uma franqueza que o público feminino abraçou como libertação.
“Ela não discursava sobre feminismo — ela vivia o que o feminismo sente antes de entender que é feminismo”, resume uma das frases mais repetidas pelos fãs. Marília deu às mulheres a permissão de serem contraditórias: fortes e frágeis, decididas e carentes, bravas e apaixonadas. Sua autenticidade era sua bandeira.
O legado que nunca se apaga
Quatro anos após sua partida, o legado de Marília continua ecoando. Suas músicas seguem entre as mais ouvidas nas plataformas digitais, e novos artistas ainda se inspiram em sua coragem de ser quem era, sem filtros. No último Dia de Finados, centenas de fãs visitaram o túmulo da cantora em Goiânia, levando flores, cartazes e canções em homenagem à eterna Rainha da Sofrência.
O empresário Wander Oliveira, responsável por administrar o acervo da artista, revelou que existem mais de 200 gravações inéditas de Marília que devem ser lançadas ao longo dos próximos anos. Um pen drive com mais de cem faixas originais guarda parte daquilo que a cantora deixou como herança musical e emocional para o Brasil.
Enquanto isso, suas canções continuam tocando nas rádios, nos bares e nos corações. E, mesmo que o palco esteja cheio de sucessoras, o trono permanece vazio. Porque para ser Marília Mendonça, não basta cantar — é preciso sentir, e deixar o país sentir junto.
