Zezé Di Camargo gerou polêmica ao pedir anistia aos golpistas de 8 de janeiro durante show pago com R$ 450 mil pela prefeitura de Porto Belo (SC).

O show de Zezé Di Camargo & Luciano realizado na última segunda-feira (13) em Porto Belo, Santa Catarina, custou R$ 450 mil aos cofres públicos e virou centro de uma forte controvérsia política. Durante a apresentação, Zezé Di Camargo levantou uma camiseta com os dizeres “Anistia já para os presos do 8 de janeiro”, em referência aos bolsonaristas condenados pelos atos golpistas de 2023, quando o patrimônio nacional em Brasília foi depredado. O gesto, feito em meio a um show pago com dinheiro público, gerou ampla repercussão nas redes sociais e críticas à postura do artista.

Show de R$ 450 mil pago com verba municipal

De acordo com informações da prefeitura, o evento integrou o Festival do Camarão de Porto Belo, uma das celebrações mais tradicionais do litoral catarinense. A contratação da dupla foi feita por inexigibilidade de licitação, ou seja, sem concorrência entre empresas, como permite a legislação para artistas consagrados. O contrato foi firmado com a empresa Live Talentos, representante da dupla sertaneja, e previa que a apresentação fosse gratuita para o público local.

O documento, obtido por veículos de imprensa, mostra que o valor pago equivale a 64% de toda a receita anual da Fundação Municipal de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Porto Belo. A fundação, responsável pelo fomento de eventos e turismo na cidade, tem orçamento de cerca de R$ 700 mil, complementado por transferências estaduais e federais que elevam o total para pouco mais de R$ 5,7 milhões.

Momento polêmico: “Anistia já” em plena apresentação

O episódio que gerou indignação foi registrado em vídeo por espectadores. Em um dos momentos mais emotivos do show, enquanto interpretava a música “Flores em Vida”, Zezé ergueu a camiseta com a frase “Anistia já para os presos do 8 de janeiro”. O gesto, acompanhado por aplausos e vaias, foi rapidamente disseminado nas redes sociais. Em plataformas como o X (antigo Twitter), fãs e críticos se dividiram. Alguns apoiaram o cantor, exaltando sua coragem política; outros criticaram o uso de um evento público para manifestações ideológicas.

“Está aí um artista que não depende da Lei Rouanet”, escreveu um internauta, enquanto outro rebateu: “Mas depende do dinheiro público municipal”. A declaração de Zezé veio acompanhada de críticas veladas às políticas de fomento cultural do governo federal, frequentemente alvo de ataques de grupos bolsonaristas.

Repercussão política e impacto financeiro

Zezé Di Camargo

O valor desembolsado pela prefeitura gerou debates sobre a gestão dos recursos públicos destinados a eventos culturais. O show de 110 minutos custou o equivalente a R$ 4.090 por minuto de apresentação, segundo cálculos baseados no contrato oficial. Apesar do montante elevado, a empresa Live Talentos ainda não recebeu o pagamento integral, conforme dados do Portal da Transparência. Assim que o repasse for efetuado, a produtora passará a figurar entre os principais fornecedores da administração municipal em 2025 — ficando atrás apenas de contratos nas áreas de saúde, pavimentação, saneamento e educação.

A situação levantou questionamentos entre vereadores e cidadãos locais, especialmente pela destinação de verba significativa a um evento que, além de gratuito, acabou marcado por manifestações políticas em vez de puramente culturais. O caso reacendeu discussões sobre a fiscalização de contratos artísticos e a necessidade de maior controle sobre eventos financiados por prefeituras.

A reação do público e o desgaste da imagem

Embora Zezé Di Camargo tenha uma trajetória consolidada na música sertaneja, com mais de três décadas de carreira e inúmeros sucessos, sua postura política tem dividido opiniões. Desde 2018, o artista é conhecido por manifestações públicas de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro e por críticas à chamada “classe artística dependente do Estado”. A exibição da camiseta, portanto, não surpreendeu seus seguidores, mas causou desconforto em parte do público presente ao festival.

Enquanto alguns fãs aplaudiram o gesto, outros relataram constrangimento por presenciar uma manifestação política em um evento familiar financiado por verbas municipais. “Fomos para ouvir música, não para ver discurso”, disse uma moradora local nas redes sociais. A repercussão negativa foi ampliada por jornalistas e políticos catarinenses, que pediram apuração sobre o uso do dinheiro público na contratação da dupla.

O silêncio de Luciano e a posição da produtora

Durante o episódio, Luciano Camargo, irmão e parceiro de Zezé, permaneceu em silêncio, concentrando-se na execução da música. Até o momento, nem ele nem a empresa Live Talentos se manifestaram oficialmente sobre o incidente. Questionada pela imprensa, a prefeitura de Porto Belo confirmou a contratação e o valor, mas afirmou que “o contrato foi firmado estritamente para fins culturais e artísticos”.

Nas redes, Zezé não demonstrou arrependimento. O cantor repostou mensagens de apoio e manteve o tom político habitual de suas publicações. Para ele, o gesto teria sido um “ato de solidariedade humana” aos detidos pelos ataques de 8 de janeiro, que classificou como “brasileiros injustiçados”.

Entre o palco e a política: o preço da opinião

Zezé Di Camargo, Jair Bolsonaro

O episódio evidencia como as fronteiras entre arte e política se tornaram cada vez mais difusas no cenário sertanejo. Artistas como Zezé Di Camargo, conhecidos por posicionamentos públicos, acabam transformando suas apresentações em arenas ideológicas. O impacto, porém, é duplo: enquanto consolidam um nicho de apoio entre simpatizantes, afastam parte do público que busca apenas entretenimento.

Especialistas em gestão cultural alertam que manifestações políticas em eventos custeados com dinheiro público podem gerar interpretações de uso indevido de recursos, especialmente quando o discurso desvia do propósito artístico do contrato. “Não se trata de censura, mas de responsabilidade. Quando o show é pago pela prefeitura, o artista fala também em nome da cidade que o contratou”, explica um analista ouvido pela imprensa local.

O que diz a lei e o futuro das contratações

Apesar das críticas, a contratação por inexigibilidade de licitação é prática legal e amplamente utilizada para artistas de renome nacional. No entanto, o episódio reforçou o debate sobre transparência e critérios de escolha na definição de valores e repertórios. Em um contexto de polarização política, prefeituras têm sido pressionadas a exigir cláusulas contratuais que limitem o uso do palco para manifestações ideológicas.

O caso de Porto Belo pode influenciar futuras decisões de gestores culturais em todo o país, que passam a adotar cuidados adicionais na formulação de contratos. O equilíbrio entre liberdade artística e responsabilidade pública volta, mais uma vez, ao centro da discussão.

Conclusão

O show de Zezé Di Camargo & Luciano em Porto Belo era para ser uma celebração do turismo e da música, mas terminou em polêmica nacional. Com um custo de R$ 450 mil, o evento transformou o palco em arena política e reacendeu o debate sobre o papel dos artistas financiados com verba pública. Enquanto a prefeitura tenta se afastar do episódio, o cantor reafirma suas convicções — e o público, mais uma vez, se divide entre aplausos e críticas.

Share.

dedicados à pesquisa, cobertura e promoção do gênero que move o coração do Brasil. Fundador e CEO do Movimento Country, o maior portal de música sertaneja do país, Hedmilton transformou sua paixão pelo campo e pela cultura popular em uma das principais referências do entretenimento brasileiro. Reconhecido por sua visão pioneira, já entrevistou os maiores nomes do sertanejo, cobriu festivais históricos e ajudou a consolidar o gênero nas plataformas digitais. Sua trajetória une jornalismo, estratégia digital e curadoria musical, tornando-o uma autoridade respeitada tanto por artistas quanto pelo público. Hoje, lidera o Movimento Country com o mesmo propósito de quando começou: valorizar as raízes, celebrar os artistas e conectar o sertanejo com novas gerações.